domingo, fevereiro 27, 2005

Visão

Alumas das coisas nós as percebemos por pura insistência. É-me o caso desta lição: só podemos enxergar aquilo que conhecemos. Há o lógico, certamente, mas não há o óbvio.
Devo dizer que sabê-lo fará de mim uma pessoa muito melhor. Porém devo ser sincera e reconhecer que relutei para aceitá-lo.
Por sorte, a lição não desistiu de mim, e persistiu em colocar-se a minha frente, até tornar-se familiar, para que eu a pudesse identificar. Que eu a pudesse perceber.

Antes, apresentou-se-me em uma tarefa lúdica. Olhar um negativo de fotografia e dizer o que enxergava. Vi uma caveira, depois uma mulher, outros viram uma floresta, e poucos uma penteadeira, que de fato estava na foto. Eis que surgiu a pergunta: o que é uma penteadeira?
Ora, pobre homem! Como poderia vê-la se sequer a podia imaginar? Como identificá-la naqueles traços? Na hora rabisquei: Não se identifica o que não se conhece. E abandonei a questão.

Então, mais tarde, lendo, por lazer, sobre design, deparei-me com o princípio da Iúca. Vivendo cercada de casas em cujos jardins estavam 80% de iúcas, árvores características da Califórnia, a autora nunca as tinha visto, até ganhar um livro de identificação de árvores como presente de Natal. Eureka: "Esse é o x da questão (...) o fato de podermos dar nome a algo significa que estamos conscientes deste algo...temos poder sobre ele...nós o possuimos e estamos no comando"*. Tavez ela exagere um pouco. Mas eis-me aí, mais uma vez, deparando-me com minha lição.

Menos de uma semana depois, matê. Entrego-me. Estou lendo O Banqueiro dos Pobres**. Nada a ver com design e muito menos com um exercício de percepção ao estilo dinâmica de grupo. E ela está ali, nas palavras de Muhammad Yunus: "só poderemos construir um mundo sem pobreza se formos capazes de concebê-lo".

Assim fez-se entender. Posso percebê-la agora. E, por isso, será preciso aventar a imaginação, galvanizar a criatividade, e explicar pacientemente a quem não pode enxergar. Pois há muitos tipos de cegueira, e o ditado está certo: o pior cego é o que não quer ver.

* Robin Williams. "Design para quem não é designer".
** Muhammad Yunus. "O Banqueiro dos Pobres".

2 Comments:

At 7:24 PM, Anonymous Anônimo said...

hmmm... Eh verdade, eh preciso conceber esse mundo primeiro. Acho q eh uma das razoes pq tantas planos fracassam, as pessoas nao conseguem visualizar algo q nao eh real e concreto e mostrado pra eles. Tipo um hipercubo ou a 4a dimensao... hehehe AAAAHHHH!! Quero t ver! Bjos!

 
At 12:14 PM, Blogger luizgusmao said...

"A capacidade de conceber coisas que não estão presentes aos sentidos é crucial para o desenvolvimento do homem. E essa capacidade pressupõe a existência de um símbolo, em alguma parte da mente, representando o que não é visto ou percebido."

Jacob Bronowski, O olho visionário.

 

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