segunda-feira, outubro 10, 2005

Muito

Sexta-feira, pra variar.
Um comichão mental me acometeu-me. Apeninos. Esta palavra se repete. Ou melhor, ecoa. Ou ainda, quica. Sim, esta é a melhor descrição: Apeninos...quica na minha cabeça. E reverbera.

O Sol. Nunca antes o vi daquele jeito. Uma pintura realmente caprichada. Um círculo vermelho no céu esbranquiçado no horizonte onde finda a estrada. Belíssimo. E olha que os superlativos são raros. Quase saio da estrada na curva, pois os olhos estavam detidos no sol. E a concentração nos montes.
Fiquei de fato absurdada. Coisa que aprendi a fazer com a Marina.

Aliás, este me parece um neologismo. Xislogismos... me agradam. Acabativa: é o que eu queria ser. Palavrinha que diz muito esta. E tanho. ..Tanho me parece uma força imensa. Não?

Ainda sexta li O Nariz*. E, estando sugestionável, o danado me pegou. Durante todo o dia os narizes tiveram destaque. O meu e o dos outros. De uma moça, na fila do banco: horroroso. Tinha o piercing que chamava atenção para sua falta de personalidade. E o meu, oh céus! Intrometido. Todo transeunte investigava. Alguns com aroma fresco de jasmim, outros com odores nem tanto agradáveis e menos distinguíveis.

Durante o trabalho me senti teimosa. Makoto me chamou de marrenta. Pode? E de cabeça-dura. Fala sério.
Pelo menos disse que nunca me viu de cara feia, também a Camila não viu. E que eu não pareço estressada nunca. O Guilherme disse como professora de português devo ser uma chata. Tá bom, confesso. Português é mesmo meu xodó.

À noite, na cama, entre Gogol e Llosa o dilema não chegou as ser um impasse. Decidi pelo segundo que, além de estar mais perto, chegara primeiro. Achei justo.

Sábado: mundo novo. Comecei meu curso. Gente nova, novas perspectivas. Sutilidades, sofisticações...Pode ser que cheguemos ao “pálio blindado de fábrica”...aulas de economia sempre mexem com os brios.
Conteúdo robusto, revelações sórdidas de manipulações pérfidas...aula com ex-governo. O cara ainda tirou onda que morou em Brasília, onde o reduto mineiro cultua um ET: a peteca. Senti alguma familiaridade...e também alguma saudade.

Consciência pesada. No sábado experimentei este fardo. Mas já melhorou.

O Domingo foi atípico. Dia de perturbações e desassossego. Pela primeira vez meu desejo não era conquistar o mundo. Eu queria ontem apenas ser especialmente comum. Participar de um domingo típico. Com gente falando, fazendo comida, dividindo a louça pra lavar, brigando pelo controle remoto; com gente querida.

Estar sozinho é muito. Em dias de alegria, muito alegre. Em dias tristes, muito triste. Porque não há com quem dividir, um ou outro. Também estar só pode ser enlouquecedor. Por falta de alguém com quem argumentar a gente não escolhe um lado. E passa a contra-argumentar consigo mesmo. Eventualmente esquecendo onde está e não fazendo cara de são para aqueles que acompanhados passam sem nada entender.

Ontem, como se num conto fantático tivesse de escoklher um objeto pra ser seria eu o aparador de incenso. E ponto.

Mas o domingo não se perdeu de todo. Meu quarto, antes insalubre, está agora brilhando e cheiroso. Andei muito, quase até a África. Exposição de fotos do Senegal. Belas fotos. Me ocorre que a fotografia ensaia um diálogo. É um querer convencer de um ponto de vista. Um querer que outros vejam o que se vê; com seus próprios, com os nossos olhos.
Acho que por isso me encantam as fotos. Nunca resisto a um bom argumento.

Teve ainda "A Feiticeira". Bobo, mas divertido. De volta ao lar, mais calor humano, pra fechar um fim de semana muito único.

2 Comments:

At 5:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Esse negócio de contra-argumentar consigo mesmo me dá um nó na cabeça. Eu nunca sei de que lado estou.

"Acabativa" é mesmo uma palavra intrigante, e "desassossego" tem muitos esses. Dá-me a cara, óbvio, Pessoa. Quem mais?

Baci mile! Saudades...

 
At 10:20 PM, Anonymous Anônimo said...

Parte deste post eu entendi!

Vc não esquece o "marrenta", né cabeça-dura? hehehe
Take care of yourself!
bjos!

 

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