quinta-feira, setembro 11, 2008

Discreto e constante

Duas características suficientes para tornar um som enlouquecedor.
Deitada, no escuro, num apartamento inabitado por outros seres vivos naquele instante, tento me concentrar no nada.
O livro que eu lia, acabou, não tenho outro para começar, não quero revisitar ninguém, não quero rever nada. A televisão faz muito ruído. O som faz muito ruído. Então fico ali deitada.
E não consigo simplesmente descansar.
Por quê?
Porque ouço esse som discreto e constante da pressão.
Digo, da pressão atmosférica.
Em algum lugar entre meu brinco e meu tímpano há um embate entre a atmosfera e meu, chamemos assim, “ar interior”. E então, fica aí esse ruído insistente.
Tento desviar o foco de captação do som pelo ouvido encostando-o ao travesseiro e, o que acontece?
Outro barulho perturbador... igual a um tic-tac cadenciado de relógio, porém não é o despertador...graças à tecnologia o celular não faz tic-tac.
Este é provocado pela pulsação. Cada impulso que o coração dá ao sangue chega à superfície de minha cóclea como uma manifestação cultural.
Sim! Viver faz barulho!
E quando me dou conta disso, passo a ouvir os dois, ao mesmo tempo, em alta definição.
Enlouquecida, ponho-me a pensar o quanto somos sortudos por temos a audição limitada e o quanto somos também desafortunados por não termos pálpebras nas orelhas.
Imaginem...
Apenas imaginem a infinidade de oportunidades para colocá-las em uso!
Não vou nem começar a escrever!
Tudo isso poderia levar alguém a me internar...tenho consciência disso, afinal, ouvir o que só você pode ouvir é perigoso. Aliás isso vale para todos os sentidos.
Então, vou parar por aqui (provavelmente de comentar, não de perceber!).
Vou terminar reafirmando: discreto e constante...duas características suficientes para tornar um som enlouquecedor...e uma pessoa louca.