quinta-feira, março 19, 2009

Em boa companhia*


*escrito para participar do "Contos da Cultura".


Luiza era a única entre os amigos ali que não tinha um bicho de estimação.
Então, pôs-se a pensar em voz alta.
Se eu tivesse um cachorro, ele seria um labrador marrom, e se chamaria Lolo. Como o chocolate. Aliás, não sei porque mudaram o nome do chocolate...Lolo sempre me pareceu mais familiar.
Eu o levaria ao Ibirapuera em tardes ensolaradas e de temperatura amena para ouvir, despojadamente deitado na grama, a orquestra sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência de John Nescheling. Acho o silêncio que os cães fazem ali a melhor metáfora para o respeito que já vi.
Agora, se eu tivesse um gato, seu nome seria um plágio. Não consigo pensar num gato que não seja branco, felpudo e se chame Mingau. Culpa do Maurício de Souza. Fazendo um parêntesis, eu nunca consegui me decidir entre o Menino Maluquinho do Ziraldo e a Magali.
Como acho que os gatos não gostam que os levem pra passear, Mingau seria companhia pra outro tipo de programa. Seria um cinéfilo. Veríamos muitos filmes preguiçosamente estirados no sofá. E ele gostaria mais de Woody Allen. Seria um gato com senso de humor.
Já se eu tivesse um peixe seu nome seria Gorpo. Sabem? É o nome do amigo do príncipe Adam...do He-man. Sempre achei seu nome perfeito para um peixe.
Para o Gorpo eu mandaria fazer uma bolsa de passeio, algo como um aquário portátil. Ele iria sempre comigo à Livraria Cultura. Acho que como os ratos povoam as histórias de bibliotecas, os peixes combinam com as livrarias. Será que o deixariam entrar? Não vejo porque não... poderíamos passar horas discutindo filosofia, arte, literatura...e ele sempre acrescentaria umas bolhas à discussão...
Uma voz interrompe o pensamento.
- Luiza, porque você ainda não tem um bichinho de estimação?
- É que acho mais fácil criar os personagens...e eles me acompanham o tempo todo.