quinta-feira, março 26, 2009

Engessada*


*Escrito para "Contos da Cultura".

Mariana ia pela calçada com a cabeça nas nuvens, quando um paralelepípedo girou e a levou ao chão. Por sorte já não a podiam ver da Livraria Cultura, que acabara de visitar.
Ela ruborizou e se levantou rapidamente, com ar de espero que ninguém tenha notado. Aliviou-se quando percebeu que os transeuntes estavam muito ocupados com seus próprios umbigos para dar gargalhada de tombo alheio.
Então riu sozinha, e ao mesmo tempo quis chamar atenção, pedir carinho. Mas era forte. E estava muito perto de sua casa. Seu caderno ganhou orelhas novas e uma cicatriz na capa. Nada de mais.
Seu antebraço, por sua vez, a levou ao hospital três horas mais tarde, pois a dor não passava e ele ia se transformando numa coxa roliça. Foi até o hospital mais próximo, acompanhada de sua irmã. Lá, com um grito, colocou o braço no lugar. Ou coisa parecida.
Teve que imobilizá-lo: era a primeira vez que ia colocar gesso!

Anestesiada, pôs-se a imaginar. Como seria divertido deixar as amigas rubricarem seu braço! Quantos recadinhos “te adoro” receberia. Como ficaria tímida quando o gatinho pedisse pra escrever... Como seria legal ter ajuda pra para comer, para arrumar a cama e para tantas outras coisas. Mas...para dirigir? Para se lavar? Quem iria ajudá-la? Seria ridículo chegar ao fórum com aquele adorno inflexível! Ele não ia bem com seus taillers de bom caimento e sapatos de salto fino. Enquanto enrolavam aquela pasta fria em seu antebraço, Mariana se deu conta de que não tinha mais 11 anos, e sim 43. Nada contra os quarenta, mas lhe parecia que certas coisas têm hora pra acontecer na vida e que não combinam nada com outras idades. Achou injusto não ter quebrado o braço aos 11 anos quando isto a tornaria popular! Aos 43, quis abrir um processo. Contra sua idade e as convenções primeiro. Depois contra o responsável pela calçada frouxa. Como advogada só isto a divertiria naquela primeira experiência, além de se contorcer para coçar o cotovelo engessado: transformá-lo em uma indenização.

quinta-feira, março 19, 2009

Em boa companhia*


*escrito para participar do "Contos da Cultura".


Luiza era a única entre os amigos ali que não tinha um bicho de estimação.
Então, pôs-se a pensar em voz alta.
Se eu tivesse um cachorro, ele seria um labrador marrom, e se chamaria Lolo. Como o chocolate. Aliás, não sei porque mudaram o nome do chocolate...Lolo sempre me pareceu mais familiar.
Eu o levaria ao Ibirapuera em tardes ensolaradas e de temperatura amena para ouvir, despojadamente deitado na grama, a orquestra sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência de John Nescheling. Acho o silêncio que os cães fazem ali a melhor metáfora para o respeito que já vi.
Agora, se eu tivesse um gato, seu nome seria um plágio. Não consigo pensar num gato que não seja branco, felpudo e se chame Mingau. Culpa do Maurício de Souza. Fazendo um parêntesis, eu nunca consegui me decidir entre o Menino Maluquinho do Ziraldo e a Magali.
Como acho que os gatos não gostam que os levem pra passear, Mingau seria companhia pra outro tipo de programa. Seria um cinéfilo. Veríamos muitos filmes preguiçosamente estirados no sofá. E ele gostaria mais de Woody Allen. Seria um gato com senso de humor.
Já se eu tivesse um peixe seu nome seria Gorpo. Sabem? É o nome do amigo do príncipe Adam...do He-man. Sempre achei seu nome perfeito para um peixe.
Para o Gorpo eu mandaria fazer uma bolsa de passeio, algo como um aquário portátil. Ele iria sempre comigo à Livraria Cultura. Acho que como os ratos povoam as histórias de bibliotecas, os peixes combinam com as livrarias. Será que o deixariam entrar? Não vejo porque não... poderíamos passar horas discutindo filosofia, arte, literatura...e ele sempre acrescentaria umas bolhas à discussão...
Uma voz interrompe o pensamento.
- Luiza, porque você ainda não tem um bichinho de estimação?
- É que acho mais fácil criar os personagens...e eles me acompanham o tempo todo.

terça-feira, março 10, 2009

Compilado

Tenho mais lido que escrito (aliás porque, como se pode ver, seria impossível o contrário!).
Então vou fazer uma referência rápida ao que valeu à pena nos últimos tempos:

1. Adaptações de livro para o cinema:
1.1 Assisti a "O caçador de pipas" na TV à cabo. Bem mais leve que o livro, atenuando as cenas mais pesadas do autor, não deixa de nos fazer passar raiva. Raiva do protagonista e até raiva de seu melhor amigo, pela subserviência. O filme, como de praxe, não é ipsis literis o livro, mas confesso que gostei. Só o ritmo me pareceu inapropriado. Mas a fotografia é linda e realmente a poesia é maior que no livro, que por sua vez foi chocante.

1.2 Ainda não assisti a "o Leitor", mas o farei. Farei por duas razões, ler "The reader" foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos de idiomas. Um livro que faz pensar, mas com narrativa leve. Adorei voltar a ler literatura em inglês. (Embora não possa dizer que fui beber na fonte, já que o original é em alemão). Além disso, Kate Winslet levou a cotada estatueta pela atuação no filme e sua personagem, no livro, é instigante. Mais uma confissão: gosto dessa atriz! Admiro até sua coragem por começar (pelo menos a aparecer para o público em geral) com Titanic.

2. Recomendação:
O livro "Castelo de Vidro" de Jeannette Walls é simplesmente maravilhoso. Para variar terminei em prantos. Mas adoro quando um livro provaca em mim emoções fortes. A história baseada nas memórias da autora, por vezes, faz pensar que aquilo só pode ser ficção. Há um tipo de amor que liga as pessoas que muitas vezes é contestado, que muitas vezes é incompreensível e que muitas vezes se manifesta de formas inesperadas. Este é o tipo de laço que une a "família que aprendeu a criar finais felizes".

3. Observação pertinente: entres idas e vindas nos canais da TV na noite de premiação do Oscar e de desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, uma alegria: Heath Leadger levou postumamente o prêmio de melhor ator coadjuvante! E o melhor da noite na TV sem dúvida foi a performance do "Wolverine".

4. Peço desculpas caso tenho escrito o nome de alguém errado, mas estou correndo, então não vou procurar as referências para possíveis correções. Mas ninguém vai deixar de achar nada mencionado caso queira já que o google dá aquela ajudinha para grafias erradas!

Um beijo e um queijo.