segunda-feira, outubro 31, 2005

FDS

Vou começar pelos introdutórios, seguir pelos entretantos e terminar nos concluídos*...
Em dias de preguiça o mundo nos sacode pra nos acordar. Foi assim na sexta. Que comecei do avesso. Depois de passar a noite assistindo a "Bem me quer, mal me quer", "O casamento de Romeu e Julieta" e "Coisas de família".
Com todo respeito, o primeiro só peguei por que não vi que era francês. Mas o lapso serviu pra descobrir que além de Truffeau, Audrey Tautou também salva os conterrâneos.
Mas, no fim, aquele revelou-se um grande dia.
No sábado embrenhei-me numa nova cidade chamada zona leste. Não me perdi, o que é muito bom. E na volta topoei com a placa: São Paulo 11 km.
Já em casa, dormi tudo o que precisava e acordei com uma fome imensa de quem, como recentemente, mais uma vez, havia esquecido de comer.
Conheci o Fernando. (E ele conheceu a Gabriela). E com ele, a Jack e a Fê fui ao shopping comprar presente pra Babi e matar o que estava me matando. De lá para o cinema.
Roguei praga no Festival de Cinema - por pura dor de cotovelo porque não consegui ingressos para os filmes que queria ver – e assistimos então ao " O Coronel e o Lobisomem". Muito melhor do que eu esperava, graças à crítica. Selton Melo e Diogo Vilela mandam muito bem. E suspeito que o lobisomem lera o menino maluquinho, já que diz do outro que tem macaquinhos no sótão.
Foi uma longa noite que terminou de manhã (como é o natural, afinal). Cheia de devaneios...sobre o tempo, ou a inexistência dele; sobre Dalí; e sobre muitas coisas que levariam o dia pra escrever.
Este fim de semana rendeu pois me trouxe de volta ao meu "natural alegroso"*.


*De "O Coronel e o Lobisomem".

sexta-feira, outubro 28, 2005

bagagem

A mala já comprei. Sei que algum rumo tenho que tomar. Mas tá difícil saber o que botar lá dentro.
Estepes russas ou sanduíche natural na praia? Cada um cada um.
Não é dá pra ficar botando tudo pra dentro, estufando a coitada, sem nem saber o propósito. Por que ai corro o risco de explodir a pobre ou, se nem tanto, de ficar pesada demais e não conseguir levar. A lugar algum.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Acontece

Esdrúxulo mas verídico
Vaca desenfreada na avenida.
- Segurem essa vaca!
E um ciclista esperto acelera e, achando-se no telão do cinema, fecha o animal em trânsito.
Notícia de TV: ciclista atropelado por gado na cidade.
Vaca 2.
Uma das representantes dos animais em manifestação refugia-se.
No açougue.
Muitas hipóteses e versões.
Há quem pense que está atrás do touro do seu pai. Finado.
Outros, que é uma sensacionalista e queria impacto para sua reinvindicação.
E terceiros que não dizem nada diferente.
Indo trabalhar num dia útil cercado de dias úteis e de noites mal dormidas topo com uma árvore de óculos.
Óculos stile. Armação cult. Assim, despojadamente ajeitado no tronco esquerdo.
Mais histórias.
Mas engraçado é ninguém reparar.
***
Acordei de um sonho que reunia gente que nunca antes se viu. Íamos de carro, um do trabalho, uma amiga mineira, uma mulher que nunca vi (que depois descobri ser eu mesma) e mais um.
Repetíamos o trajeto, e repetíamos a cena. Variava apenas o diálogo.
E na estrada uma árvore baixa, simétrica, de copa robusta e flores vermelhas alegrava o caminho até o destino triste. Lugar de gente feia, mal encarada.
E eu com medo voltava correndo pro carro. Pra repetir o trajeto.
Mais de uma vez me perguntaram: você estava chorando? Seus olhos...
***
Festival de cinema.
Sinopse: 18 anos. Direção de desconhecido. Um casal encontra-se e vive dias diferentes. Trocando gargalhadas e farpas. Comigo e outros. Comédia romântica.
***
neurônios. Pequenas células cheias de conexões. Uma aula. De ciências ou de networking?
***
ignorância mútua:
não conheço sua cultura e você não conhece a minha. Não falamos nenhuma língua em comum porque não queremos. Que se dane. Quem disse que queremos nos entender.
Diz-se da racionalidade que a lógica individual nas relações interpessoais nem sempre traz resultados positivos. Há sempre o risco da soma negativa. Mas há um oásis para esta racionalidade nas jogadas repetidas. Dever-se-ia ir aprendendo e trocando a lógica do prisioneiro por aquela do mafioso.
Por outro lado, na psicologia, diz-se das jogadas repetidas que podem ser contaminadas pela profecia auto-realizável, uma falta de abertura total que não ajuda em muita coisa.
Nas interações repetidas, ultimamente, peno em dizer: a psicologia está batendo a matemática.
***
Indelével. Na cabeça.

Pra deitar: A Educação pela Pedra. João Cabral de Melo Neto.
E Memorias de Mis Putas Tristes. Garcia Marquez.

terça-feira, outubro 25, 2005

Naturalismo

As meninas foram preparadas para o romantismo, para o parnasianismo, para o simbolismo, para o arcadismo...não para o naturalismo.
***
como o cão fiel e amigo, de estimação, que tem o focinho esfregado na urina fora de lugar para aprender a não fazer sujeira;
como a criança gulosa que pediu mais do que podia comer e tem o ovo cozido enfiado goela a baixo, sem deixar espaço para o soluço, para aprender a não ter os olhos maiores que a barriga;
como o prisioneiro inocente que sem nada para dizer é torturado e nos intervalos engole as lágrimas ao tomar fôlego para mais uma imersão na banheira suja;
como o menino que toma um tapa na cara por responder a verdade - tapa indolor, mas insuportável à honra e ao moral .
Violentada assim.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Perturbações

É humanamente impossível desfrutar tudo o que há em volta. Tim festival, festival internacional de cinema, teatros mil, show no shopping, no parque, ...é preciso escolher.
É humanamente impossível ater-se às linhas, sem ao menos espiar o que há entre elas. É preciso abstrair pra não se enojar some times.
É possível imiscuir-se na perturbação e se perder. Para não, escolha e abstração. Pra não se perder no fundo é só ficar na superfície. Mas não na margem. Por que querem tanto ao fundo? Por quê enaltecê-lo?
Posso satisfazer-me com o chão que piso. Com a água que me refresca.
Posso?
O que é uma história? Quantas versões são possíveis de mim mesma? Quantas interpretações? E o que farão com elas?
Se a companhia é dos livros e dos filmes e das músicas e não dos homens as reações humanas ficam menos familiares. Embrulham o estômago agora, e emudecem depois.

REconfortantes

Coisa que não se explica. Comecei a me sentir mal. Suava frio, queria pôr o mundo pra fora. Roí todas as unhas das mãos. Depois soube a razão. Naquele instante minha avó ia para a emergência do hospital. Tem coisa que a gente não explica. Nem acredita, enquanto não acontece com a gente. Hoje já dá pra falar.
Sexta-feira. Longa sexta-feira. Uma palestra interessante. São muitas as inteligências a trabalhar...lingüistica, pessoal, motora, espacial, lógico-matemática e, especialmente, a musical. Boas noites de sono antes e depois de aprender uma coisa nova, e estudar o conteúdo até três dias depois de vê-lo. Eis os segredos da assimilação.
Pena que comecei tudo errado. Dormi pouco ou nada de sexta pra sábado. Batatas, cervejas e telefone. E segui pra aula sábado. Boa aula. Ao menos a noite seguinte foi de recuperação. Ainda tenho esperança.
Mas nada como o domingo mesmo. Revitalizador. Alguma mágica aconteceu e a cidade que era inóspita às vezes e alheia a maior parte do tempo, depois de justificado meu não voto e de algumas horas no trânsito sob a chuva no carro que me levava ao espetáculo de "Os Sete Afluentes do Rio Ota", tornou-se minha casa.
Deu até vontade de comprar o ap – Casual Vila Mariana - ali na Vergueiro.
Mas, o que vale atenção destes dias é a peça. 5 horas que voam e não se deixam perceber. Em volta, gente que fala inglês, que fala francês, o Jô Soares... tudo de menos.
Ela, uma ode à interação cultural e também à paz, de uma certa maneira. Mas ainda uma sátira ao jornalismo e ao american way of life de 60 e uma impecável homenagem à arte nas figuras da cantora de ópera, dos nomes de jazz, do mágico, do dançarino...e à espiritualidade e à vida. Uma crítica ao nazismo e ao anti-semitismo. E a toda expressão violenta da capacidade humana. Houve, inexplicavelmente quem saísse dizendo que esperava mais conteúdo. Será que não viu?
Fotografias, Jeffreys, Palavras, Um casamento, Entrevista, Espelho, O trovão. Estes são os sete atos. Que nos levam à alegria, à tristeza, ao desespero. Retratos, de arredores e interiores? Bem mais que isso! Das gentes.

quinta-feira, outubro 20, 2005

ressurgindo

Uma balbúrdia. Era assim que tava tudo na terça feira. O chão tava desintegrando. Eu estava. Meio inerte, meio aterrorizada e intensamente tranqüila. Como nos abalos sísmico que não chegam à superfície serena.
Mas nada que uma noite de sono não transforme. E que novas notícias não modifiquem.
A vóvilis tá falante e corada. E a expectativa é que em uma semana volte pra casa.
Minhas costas deram trégua. Em verdade, acho as esqueci um pouco. Meu computador ressuscitou. Faltou só meu celular retornar andando com as próprias pernas...
Voltei ao meu espírito alegre. Por bem, pois já estava cainda em crise de abstinência de alguma endorfina. De algumas gargalhadas. De mim.

***
Aquele homenzinho tacanho
Pândego, caricato,
Aproximou-se com semblante grave.
Sentei-me para ouvir.
- Não entendi a piada.

segunda-feira, outubro 17, 2005

imperativos

É preciso anunciar: nunca seria uma escritora de peso. Um verdadeiro e substancial tomo, nem pensar. Não posso com isso, de desenvolver o argumento. Exaspera-me.
Tenho forte apreço pela levaza, todos sabem. Mas o imperativo é outro: parecem-mos óbvios. Os argumentos, claro.

***
Passei. E ficou me olhando o bichano, com aquele sorriso de Monalisa.

***
Fastio do mundo. Num dia de insatisfação fico assim. Quero ler uma história que não está escrita. Ouvir uma música que não compuseram. Sôfrega.
Meio fera. Adrenalina. Quando devia apenas descansar. Os ventrílucos se debatem. A tíbia falha, o martelo oscila, as narinas ardem, a saliva abunda.

De trás pra frente

Ficar muito tempo sem escrever dá nisso. A memória funciona melhor revisitando o mais próximo primeiro. E fazendo o caminho contrário. Mais ou menos como quando perdemos alguma coisa. O que me leva ao começo, ou melhor, ao fim desta história.
Perdi meu celular. Impressionante como ficamos dependentes destes bichinhos.Mas enfim, vejo como um sopro de liberdade!
Mas um pouco antes eu deliciava um domingo em família. Ao som de Tom Waits, como quase de costume, conhecendo vinho de uva diferente, comendo um namorado bem cozido (peixe mesmo, pros mais sujos) ... e, antes ainda, eu dormia. Profundamente. Por longas horas. Depois de trabalhar arduamente sobre saltos cruéis e ter de falar para muitas, muitas pessoas de nomes deveras estranhos.
Mas o diferencial estava na minha obsessão. Quero um buraco. Quero-o muito. Pensei em anunciar nos classificados:

"Compro um buraco.
Mas não qualquer um.
Preciso do fora do comum.

Ao contrário.
Que seja um buraco do avesso.
De plástico, madeira ou gesso.

Pros menos poéticos
e mais exatos,
preciso dum prato.

Dum troço abaulado
convexo, circular
que se possa pendurar.

Negro, incolor
mas não transparente!
De 10 de raio, aproximadamente.

É que eu quero um buraco
pra tampar o buraco
que tenho na parede."

Não acredito que o encontraria assim. Deste modo, postergo o anuncio. Mas está ai, em todo caso.

***
Hoje fez-se a luz. E com ela o deslumbramento. Começou o horário de verão e com ele posso descobri uma nova cidade. Aquela dos dias úteis que se escondia após as 18h. Fico feliz e não perco tempo. Atirei-me à estação anunciada. Digamos: uma pré estréia.

Isto me lembnra cinema, o que tem tudo a ver com a primeira aventura vespertina. Reserva Cultura. Tanta lenda, fui conferir. E por sorte de principiante foi uma grande inauguração. "O jardineir fiel", de Meirelles, adaptação do livro homônimo de Carré. Tocante. Quero a trilha sonora agora. Mas não foi só o que ficou. Seria insensibilidade.

Pra que ordem, não é mesmo? quem disse que a memória se organiza em ordem cronológica?

Passei por um dia lacônica. Me custou um acúmulo de palavras que agora só se eu encenasse um monólogo. Mas passei incólume. E exultante. Por que no silêncio fiz muitas descobertas. Descobri Lygia Fagundes Telles e seu " Senso de Humor". " O bem humorado é um esteta!"

Desvendei o sincretismo e amanheci a vontade de ser maluca em tempo integral. Nas ruas as pessoas interessantes passavam de uniforme. E eu querendo o manual defenestrado. Mas ainda sou a mesma. Continuo sonhando com asas nos pés.

Sei que às vezes, por exemplo ao deitar todas estas palavras, sôo difícil. Mas sou muito mais.

Sou fugitiva.
"Eu nasci assim. Meio mineira. Meio fluminense (metade que ficou pra trás). Meio portuguesa, meio italiana. Meio índia. Bem brasileira.
É importante botar reparo que meio é só força de expressão. Que ao nascer eu inda num era mais que uma.
Isso foi lá perto do mar, só que do lado de cá da serra, que fazia dele alienado. Dos outros mesmo.
Então começou a andança. Muda de casa, de guarda, de escola. Enfim de cidade. E daí, já parecia que sair era sempre opção. Bem ao melhor estilo - os incomodados que se retirem.
Cada vez que mudava era uma chance de ser outra. Chance que não perdi.
Fui filha única, neta mimada, menina rica. Fui irmã mais velha e irmã caçula. Fui preguiçosa. Fui campeã. Fui café com leite. Fui namorada. Atleta aqui, destemida acolá. Fresca. Não fui revoltada, nunca. Ainda. Fui alerta e fui desatenta. Exigente. Detalhista. Fui desinibida. Até exibida fui. Fui bruxa. Fui amiga. E não querida. Fui "baixinha". E fui a mais alta, última da fila. Fui rápida. Fui bonita. Fui quebrada. Fui educada e comportada. E fui moleque com quatro rodas. Ou mais.
Fui teimosa. Fui boas notas. Fui calada, pasmem. Fui tolerante. Fui sábia e fui lábia. Fui idéia. Fui feliz. Fui depressiva, escondida. Fui simpática. Fui sozinha. Fui homonegeizada. Fui diferente. Fui até interessante às vezes. Fui cega. Fui de um estilo. E de outros. Fui egoísta. Fui generosa. Fui paciente. Fui esperançosa. Fui precoce. Fui careta. Fui sem grana. Mas de bom humor. Fui eleita. Fui meiga. Fui assertiva. Fui um entojo. Reacionária. Liberal. Fui livre. E, sem querer, fui mentirosa. Quando disse brincando: não sou fugitiva."

quinta-feira, outubro 13, 2005

Dia das crianças

Não sou de abraçar e levantar muitas bandeiras, mas algumas são inatas. E com uma delas sai à rua ontem: estampada com a bandeira de Minas Gerais.
Descobri que uma bandeira pode trazer muitos conhecidos. “Sé mineira?”...Até um peruano que conhece Juiz de Fora!
Sem pensar, a caminhada me levou à Vida de Menina. Muito apropriado à data e ao espírito federativo em voga. Linda história de Helena Moley em Diamantina. Era ela, mas bem que podia ser eu.
De lá, fui ao shopping revelar minha primeira foto fotógrafa. Do sr. Ildo, na Av. Paulista. Uma hora.
Ai percebi que hipoglicemia é o nome que os médicos dão pro ditado popular “saco vazio não pára em pé”. E vi que tinha me esquecido de comer naquele dia. No dia das crianças devia ser assim.
Já que tinha que empurrar uma hora lá fui eu. Sai do roteiro e troquei o Coração Mineiro por uma risoto pescatore. Malfadado caco. Ficaram todos no prato: mexilhões e lula emborrachada. Mas deu ainda pra remendar a caca na casa do pão de queijo.
Ainda iam só 40 minutos, então fui onde de costume me fico: à livraria. E me dei um presente: Poesia russa moderna. Muito muito muito bom. È claro que me levou a noite passada, mas isso é outra história.
De lá, voltei à revelação das fotos, e surpresa: linda foto a do sr. Ildo. Um bom começo.
Voltei. Cheguei suando de alegria. Porque ela é assim: nem sempre perfumada, hollywoodiana, politicamente correta.

terça-feira, outubro 11, 2005

konnichiwa

só três horas para o feriado!!!
dia das crianças...hum...

o amor enche o balão!

segunda-feira, outubro 10, 2005

Muito

Sexta-feira, pra variar.
Um comichão mental me acometeu-me. Apeninos. Esta palavra se repete. Ou melhor, ecoa. Ou ainda, quica. Sim, esta é a melhor descrição: Apeninos...quica na minha cabeça. E reverbera.

O Sol. Nunca antes o vi daquele jeito. Uma pintura realmente caprichada. Um círculo vermelho no céu esbranquiçado no horizonte onde finda a estrada. Belíssimo. E olha que os superlativos são raros. Quase saio da estrada na curva, pois os olhos estavam detidos no sol. E a concentração nos montes.
Fiquei de fato absurdada. Coisa que aprendi a fazer com a Marina.

Aliás, este me parece um neologismo. Xislogismos... me agradam. Acabativa: é o que eu queria ser. Palavrinha que diz muito esta. E tanho. ..Tanho me parece uma força imensa. Não?

Ainda sexta li O Nariz*. E, estando sugestionável, o danado me pegou. Durante todo o dia os narizes tiveram destaque. O meu e o dos outros. De uma moça, na fila do banco: horroroso. Tinha o piercing que chamava atenção para sua falta de personalidade. E o meu, oh céus! Intrometido. Todo transeunte investigava. Alguns com aroma fresco de jasmim, outros com odores nem tanto agradáveis e menos distinguíveis.

Durante o trabalho me senti teimosa. Makoto me chamou de marrenta. Pode? E de cabeça-dura. Fala sério.
Pelo menos disse que nunca me viu de cara feia, também a Camila não viu. E que eu não pareço estressada nunca. O Guilherme disse como professora de português devo ser uma chata. Tá bom, confesso. Português é mesmo meu xodó.

À noite, na cama, entre Gogol e Llosa o dilema não chegou as ser um impasse. Decidi pelo segundo que, além de estar mais perto, chegara primeiro. Achei justo.

Sábado: mundo novo. Comecei meu curso. Gente nova, novas perspectivas. Sutilidades, sofisticações...Pode ser que cheguemos ao “pálio blindado de fábrica”...aulas de economia sempre mexem com os brios.
Conteúdo robusto, revelações sórdidas de manipulações pérfidas...aula com ex-governo. O cara ainda tirou onda que morou em Brasília, onde o reduto mineiro cultua um ET: a peteca. Senti alguma familiaridade...e também alguma saudade.

Consciência pesada. No sábado experimentei este fardo. Mas já melhorou.

O Domingo foi atípico. Dia de perturbações e desassossego. Pela primeira vez meu desejo não era conquistar o mundo. Eu queria ontem apenas ser especialmente comum. Participar de um domingo típico. Com gente falando, fazendo comida, dividindo a louça pra lavar, brigando pelo controle remoto; com gente querida.

Estar sozinho é muito. Em dias de alegria, muito alegre. Em dias tristes, muito triste. Porque não há com quem dividir, um ou outro. Também estar só pode ser enlouquecedor. Por falta de alguém com quem argumentar a gente não escolhe um lado. E passa a contra-argumentar consigo mesmo. Eventualmente esquecendo onde está e não fazendo cara de são para aqueles que acompanhados passam sem nada entender.

Ontem, como se num conto fantático tivesse de escoklher um objeto pra ser seria eu o aparador de incenso. E ponto.

Mas o domingo não se perdeu de todo. Meu quarto, antes insalubre, está agora brilhando e cheiroso. Andei muito, quase até a África. Exposição de fotos do Senegal. Belas fotos. Me ocorre que a fotografia ensaia um diálogo. É um querer convencer de um ponto de vista. Um querer que outros vejam o que se vê; com seus próprios, com os nossos olhos.
Acho que por isso me encantam as fotos. Nunca resisto a um bom argumento.

Teve ainda "A Feiticeira". Bobo, mas divertido. De volta ao lar, mais calor humano, pra fechar um fim de semana muito único.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Uma semana e tanto

A última vez que parei pra escrever foi há uma semana.
A sexta feira tão esperada - ainda mais que suas gêmeas antecipadoras do descanso -
esta que trazia companhia, começou com uma digressão pela estrada que me levou ao outeiro onde apresentaram-se saguis e jacus, em pleno expediente.
Foi um dia de realização. Boa análise, confiança conquistada, bom projeto, engajamento, boa perspectiva.
E tudo isso para anunciar um suspiro.
Voltei pra casa numa pausa pra fazer a mala, no posto pra abastecer o carro, no Largo e em Cumbica.
Por vezes, o rumo certo é o sentido contrário.
Acolheu-nos a noite fria na cidade cenográfica. Ao sabor da Baden Baden mais encorpada, mais tostada, ríamos. Na madrugada, depois do vinho no gargalo, houve quem carregasse a alegria nas costas e quem fugisse aos olhos do vigia noturno.
Houve também quem fizesse amizade. Com o Carlos, falante do língua do alcool, ou do “Cachorro Bom”.
Nada me fugia, ainda quando de olhos fechados.
Carro empurrado, carro roubado. E lá vamos nós. Despertamos a caminho do horto. Acordei pensando em não me mexer.
O cenário passou de chalés à mata de araucárias, exuberante em sua uniformidade, com alguns caprichos revelados da natureza. Falamos de antropologia, de ecologia, e não falamos. Ainda que alguns interlocutores fossem argutos.
Exploramos e nos acomodamos no cantinho de Portugal. Lugar pra aquecer a tarde.
Havia muito o que fazer. E era proibido apoucar-se.
Um brownie e o melhor choconhaque ao som do saxofone ao vivo. O aquecedor pra esticar a noite e o fondue ao som da banda Two Zé, que nos resignou do DVD. Uma boa fotografia.
O sono dos justous.
Chuva e alguma dor. Sem aquiescer, trocamos a Pedra do Bau pelo pronto socorro. Mesmo carecendo de ajuda pra aprumar, muito bom humor. Amizade deixa marcas.
Carinho. O fim de semana soube assim.

Depois, dois dias de repouso pra mitigar a dor e a consciência. Uns filminhos que afinal ficar olhando pro teto não dá. Um balão, muito mimo. Telefone em casa.
De cama descobri a resiliência, convenci-me do que já pensava sobre o referendo e dormi.
A quarta feira foi de notícias. Não é que serei muito pobre, muito ocupada e muito feliz?!
E eis que finda o espaço de uma semana inteira.