terça-feira, agosto 30, 2005

samples

o que é que separa
este turbilhão
do resto do mundo
neste semblante plácido?

o que é que amortece
esse palpitar
esta respiração ofegante
neste corpo lânguido

o que é que
neste seu olhar?

***

Inspiro
expiro
respiro
por isso vivo
inspiração

***

gostar não é achar perfeito
reconheço
gosto mesmo de alguns defeitos

***

o corpo tem memória
se lembra o meu
com saudades
do seu

***

ó escuridão, o que te faz triste?
ó solidão, o que te faz viva?
A luz faz viva a sombra
A saudade, triste o só.

***
Nunca antes senti
essa amargura
jamais incomodou-me a alegria
Agora fujo dos sons
Fecho-me para não ver
a felicidade alheia.
Ofendo-me: mesquinha
Defendo-me: sozinha!

***
De relance o olhar febril
na velocidade dos aflitos passos
revela, num interim, a alma senil
a despeito dos juvenis traços.

***
Ou quem sabe a dúvida?

É tão dificil ser
afirmativo e
manter a doçura

Quero saber o que
em mim sou eu.
Talvez seja a procura.

***

Nada é.
Tudo pode ser.

segunda-feira, agosto 29, 2005

lapso

Amar...
gostar mais do sujeito que dos predicados.

o que me lembra um pensamto de outros tempos:

"não quero ser um bom partido, quero ser seu ponto fraco."

Três vidas, um destino.
Muito melhor do que eu esperava. Charlize Theron é mesmo ótima. E talvez sua personagem tivesse razão...temos, antes de tudo um compromisso com a gente mesmo. Ou não?

quinta-feira, agosto 25, 2005

verbos

Reflexivos são para os artistas, eremitas, sacerdotes e criminosos.
Eu gosto mais dos transitivos, que rendem uma boa prosa.

Sacar a máscara e fazer uma careta.
Sem subterfúgios, sem ludibriações.
Preencher os próprios limites. Vestir sua mesma carapuça.
Ser transparente e imprimir sua identidade.
Reconhecer-se no espelho, na sombra, no discurso, no eco.
Realizar-se

quarta-feira, agosto 24, 2005

Notícias de telegrama

A coisa tá brava, o pique tá louco, o ritmo punk. Tanta coisa pra dizer e tempo zero. Nos últimos dias fui a uma balada que deveria ser do povo bonito da cidade, esbaldei-me de dançar, e o melhor: fui ao Bourbon Street Fest, debaixo de sol, assistir ao show de Chuck C e Lisa Lee. Os caras mandam muito.

***
Já sei agora qual meu sonho de consumo: uma banheira de hidromassagem. Céus, como isso faz falta em semanas como as que estou vivendo!

***
Há pessoas que são coeficientes de correção de nossa visão de mundo – já disse Pessoa. Eu tenho a sorte de chamar essas pessoas de amigos. São eles que nos ensinam, muito, sobre nós mesmos.

***
Não aspiro à originalidade. Por medo da mediocridade, é vero. Fico mais feliz quando constato só o que à genialidade já ocorrera e quando escrevo aquilo que há fora anunciado pelos grandes. Daí vem a completude desta existência. Ler para crer.
Não há metade que não absorver e realizar.

quinta-feira, agosto 18, 2005

multiplicidade

os mundos são quase tantos quanto são as pessoas

releitura

Em terra de cego, quem tem um olho é louco.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Eu troco...

determinantes e causalidades
por
condicionantes e antecedentes.

Hoje tenho FÉ na LIBERDADE.

terça-feira, agosto 16, 2005

onqoto

A vida,quando permitimos, nos surpreende positivamente. E é tão bom se deixar surpreender...
Recebi muitas visistas na última semana e foram muitos programas -alguns bem diferentes, outros bem iguas, pra conhecerem mesmo minha vidinha paulistana.
Num mesmo dia a vida resolveu me provar mais de uma vez como é bela. Saindo exausta do trabalho resolvi alugar um filminho e, quem diria, ganhei uma quick massage, absolutamente free. Continuei a caminhada até em casa muito mais leve, apesar do trombolho do computer que levava pra trabalhar em pleno fim de semana. Chegando à portaria do prédio, então, veio o porteiro em minha direção e aquela que eu tinha certeza ser mais uma conta a pagar revelou-se um lindo cartão postal (adoro-os) vindo diretamente do Monte Fuji, Japão. Mesmo de longe alguns amigos sabem nos deixar alegre! E, depois, acreditando que uma longa semana de trabalho não podia fechar melhor, qual não foi minha surpresa ao encontrar, sobre minha cama, aromáticas rosas rosa, minhas favoritas, sem me importar que não fossem pra mim.
Mas fôra, de fato, um longo fim de semana, que passou como uma rajada de vento na península.
Nunca antes errei pelo Morumbi como nessa semana. Quinta-feira aventurei-me por ali procurando um restaurante europeu em que um vinho, um fondue e uma boa companhia traduziram a felicidade. Na sexta foi a vez de passear pela Sé, depois de comer numa cantina italiana na Vila Madalena. E, como nada rolava na Sé, rumamos pro Barnaldo, ou carinhosamente agora denominado, Caverna do Dragão. Bebemos um cado e caimos na cama. Sábado, o dia seguinte, foi a primeira despedida. Uma rápida volta pelo aeroporto e seguimos para o Ibirapuera. Só pra conhecer.
E a noite foi a vez da beleza me comever. Depois de voltar a errar como nunca pelo Morumbi chegamos ao Santo Amaro, teatro Alfa, para assistir a um espetáculo do Grupo Corpo. Espetáculo especialmente entitulado: Onqoto - perfeito pra uma mineira perdida por ali.Depois daquilo não poderíamos arrumar o que melhor fazer naquele dia e rsolvemos por um ponto final ali mesmo, no ápice.
O domingo foi de pôr o papo em dia, já que a familia acabava de chegar da viagem dos meus sonhos. Fotos e histórias da Grécia, da Turquia, dos Sulfi, uma bolsa de Paris. E a amizade, que me faz falta ainda em são Paulo, ali presente - quem me conheça.
Ainda fui, com o Dan, ao Knoplex, ver A fantastica fabrica de chocolate. E Jonny Dep é mesmo o máximo.
De volta ao lar, uma nova moradora: Jack, menina baladeira. Oba, mais companhia!
A segunda-feira então foi de loucura no trabalho, preguiça de academia e papos de amigo regados a cerveja. E, hoje, o ultimo visitante se foi.Agora vou voltar pra casa e ter comigo.

sexta-feira, agosto 12, 2005

SEM LUGAR

As referências não estão para mim no lugar. E não estou confusa. O que digo é que o meio fio sobre o quel tento me equilibrar é a liberdade. E as raízes e clausuras não seguram sequer minhas crenças.
Fui pela primeira vez a um enterro ontem e, lá, não podia deixar de pensar no sentido de todas aquelas edificações. As pessoas queridas não ficam ali. Não estão ali, mas em sua nossa lembrança, nas palavras, em sua obra e descendência. Não há lugar para ter com eles. É como a força das crenças, que não está na instituição ou no prédio. Está dentro de mim, onde quer que eu esteja - em meu quarto, na praia e até na igreja ou no cemitério.

As emoções fortes desgatam mas também ensinam que um abraço ou uma presença podem ser muito o que fazer por alguém.

“ Não lhe posso dar
o que já existe em você mesmo.
Não posso atribuir-lhe
outro mundo de imagens
Além daquele que há em sua
própria alma.
Nada lhe posso dar a não ser a
oportunidade, o impulso, a chave.
Eu ajudarei a tornar visível
o seu próprio mundo.
É tudo”
(Herman Hesse)

terça-feira, agosto 09, 2005

Dobrando

14,5 horas de trabalho numa singela segunda feira. Ufa. Mais um pouquinho estou dobrando a jornada de trabalho!

***

Ocorreu-me ontem que a maior parte das pessoas que conheço é muto imatura para lidar com os sentimentos e, que o pior, é que assim permanecerão por falta de coragem.

***

Não pode passar em branco: Os monólogos da Vagina, cujo ingresso ganhei, foi um duplo presente. Nos dobramos de tanta risada no domingo a noite. E estou dobrando a aposta:ninguém me convence de que o carinha da nossa frente não era contratado do espetáculo!

Paulistana

O fim de semana começou sem expectativas. Por amor ao trabalho comprei uma revista cuja manchete, entre outras, era: a dieta de Jesus. Ok, amor não se explica.
A sexta a noite ia ser mais uma regada a música quando decidimos, Fê e eu, explorar a nigth paulistana. Lá fomos nós para o Show Bar. Chegar foi fácil, graças ao mapa do Marcinho – que infelizmente não tinha o caminho e volta. Mas isto era preocupação pra mais tarde.
Na porta descobri as vantagens de conhecer as pessoas certas: não ficamos na fila e ganhamos uma carimbada VIP.
Horas e horas de muita música, bebida, dança e risada. E muitos conhecidos. O jeito era não olhar o povo feio que subia no balcão (exceto os bartenders, é verdade).
E, São Paulo é mesmo um mundo! Conheci o Michael, da África do Sul, que mora há 6 anos no morumbi e ainda prefere conversar em inglês. Enquanto eu descobria um pouquinho sobre a África passou por nós o simpático canadense que nos agradeceria o resto da noite por saber indicar na sua língua onde estava o banheiro naquele lugar labiríntico.
Sem ceder aos ataques, Fê e eu saímos quase ilesas da balada, para chegar, sabe-se lá como, a nossa casa às seis e quarenta da manhã de sábado.
Dormi e acordei doendo pra todos os lados – nada que um bom banho não desse jeito. E fomos almoçar uma comidinha light. Voltei pra casa e a cama falou mais forte. Mais música e um guia pra planejar o circuito cult.
À noite fui ao Frei Caneca. Na fase geração saúde matei as saudades do açaí e foi só liberar meu espírito consumista pra me sentir num parquinho. Comprei um CD da Nina Simone – obedecendo a indicação do dia anterior – e uns livrinhos – afinal, não basta malhar o corpo. Enquanto esperava a sessão de cinema devorei o primeiro. E percebi que há muito mais gente pensando sobre minha questão fundamental: a leveza. Ítalo Calvino a coloca como a primeira de suas “Seis propostas para o próximo milênio”. Gosto de saber que autores de peso estão do meu lado. “É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma”*
Entro pra sala de cinema que só tem crianças de mais de 20 anos. E o filme é lindo! O Castelo Animado. Constato que já entendo diálogos inteiros em Japonês!
O domingo começa com preguiça. Então tomo o café da manhã e rumo para o Ibirapuera. Eu poderia escrever a vida inteira sobre um dia.
Cheguei ao parque muito mineira, procurando quem pudesse ter uma peteca! Andei muito tempo divagando. Desta vez me atrevia a diagnosticar as personalidades segundo os cães acompanhantes.
Eu gosto mesmo de gente. E nisso está o encanto desta cidade: gente.
Andei, andei, andei e nada de chegar ao lago. Foi quando me dei conta de que para chegar até ele era preciso sair das margens do parque. Sempre andei por ali com olhos de turista, como quem vê de fora. E sabendo disto, decidi entrar. De verdade. E quando dei por mim estava a um passo da água. Recostei-me sob a sombra da árvore e, como num quadro impressionista que sempre me vem a mente ao passar por estes caminhos, pela primeira vez eu fazia parte da paisagem.


*PAUL VALÉRY

sexta-feira, agosto 05, 2005

matryoshka

A gente é assim...não cresce, cria cascas novas que se sobrepõem como a matryoshka. Olho para dentro e vejo, bem lá no fundo, uma menina. Que ainda ontem para dormir esperava ouvir histórias como a da Rosa Azul, que meu pai nas poucas vezes em que me pôs para dormir contava. A voz ia se desfazendo em imagens sonhadas. Um misto de pequeno príncipe e bela adormecida. Ainda hoje tem um encantamento aquela história escrita para minha mãe que ganhava outros contornos e muitas cores cada vez que eu as ouvia. Mas as histórias que eu queria ouvir na noite de ontem eram de menina crescida. Queria conhecer a sua história, de quem ma contasse. Em verdade, sentia falta de uma voz que fosse sumindo e dando lugar ao sono profundo. Embalando a imaginação e induzindo a tranquilidade do sono testemunhado.

quinta-feira, agosto 04, 2005

saude

Voltei de viagem colorida. Em tons de vermelho, roxo e pastel. Ao menos não foi preto, branco e azul, como o guarda-roupas de antigamente!
Depois de fazer feio na praia criei coragem e fui, finalmente, inaugurar a academia em São Paulo. Como se pode ver, para criar devida coragem precisei do tempo exato e 10 quilos. Mas tudo bem, antes tarde do que nunca. Hoje, se eu pudesse, descansava os braços o dia todo assim, sobre o teclado e reduzia os movimentos ao dedos, que talvez não tenham músculos, porque são a única parte do corpo que não dói.

É incrível o poder de um exerciciozinho na vida da gente. Já melhorou minha alimentação – troquei o jantar pelo café da manhã. E já melhorou meu ânimo. Já até acho possível estar em forma algum dia e ter fôlego pra enfrentar uma cordilheira acima. Incentivos. Somos mesmo escravos deles vez por outra. Tudo porque os amigos provocaram falando em Cuzco.

Como não paro de pensar bobagem nunca, ontem descobri a vida após a morte: ir para academia depois de um dia de cão no trabalho!

E nesses dias de cão e de gato andei refletindo e percebi que as teorias, embora eu as adore, não servem somente para a academia. Na vida a gente pode, no máximo refletir, como tenho feito, já que sou afeita a uma argumentação. Ficar pensando muito porém, tentando antever, não dá. O tempo de tomar um decisão é uma fração de segundo em que parando para pensar modificamos as possibilidades.

Ser genuinamente impulsivo é para poucos. Eu mesma tenho melhorado mas estou ainda muito aquém. Refazer os limites entre a razão e a emoção será hobby para uma vida inteira!

segunda-feira, agosto 01, 2005

Paraty

Dormi muito este fim de semana. Fui me deitar na sexta às dez e o sonho era tão bom que não quis acordar pelo resto dos dias. Começou com uma passagem de ônibus rumo a Paraty. Chegava lá às 3 da manhã e sendo um sonho eu já tinha um quarto me esperando. Dormi dentro duma concha, ouvindo o respirar do mundo das baias. Levantei cedo, fiz o devido reconhecimento do local, pé na areia. Tomei um delicioso café da manhã, bati papo com o Sr. Sérgio, amante do mar, e dono da Acqua Marina, pousada na praia. Ganhei uma carona de jipe até a rua principal, de onde pegaria a vã que ia me deixar em Tarituba, a 20 minutinhos de barco da Ilha do Pelado. Ainda no cais conhecei Tadeu, carioca bom de papo errando em busca de alguns quilos de camarão. O inverno brasileiro estava só na brisa gelada que cortamos ao baquear sob o céu azul sem uma mácula. Água Cristalina. Uma mineira, vindo de São Paulo, na praia. Tomando uma cerveja e comendo pastel de queijo e de camarão. Tive companhia de James Joyce. E depois dele de Paulo e Sônia, vindos do Rio de Janeiro. Acharam interessante eu viajar sozinha. Expliquei que em sonho a gente pode tudo.
Na linha Perequê-Paraty aprendi tudo que pude sobre a pesca local com o Joaquim, luso-descendente muito simpático. Voltei à pousada. E em poucos minutos apareceu mais gente na história. Miguel e Dan vinham de Brasília, com dois amigos – Catatau e Prezado! Todos tínhamos fome. Muita fome. Confiamos ao Sr. Paulo de novo nosso destino e não poderia ter sido melhor. Companhia dos Copos. Nos fartamos de peixe. Experimentamos até a cachaça local, muito boa, como tudo que vem de Minas! E o ritmo, continuava aquele dos sonhos, quando tudo acontece, simplesmente.
Fez frio depois que escureceu e nós nos encorajamos todos. Fomos conhecer o centro histórico de Paraty. Um lugar de charme inenarrável. Arquitetura, artistas locais, assim, a cada esquina. Pisamos aquelas ruas de pedra como quem anda em nuvens. E chegamos ao 33. Onde ficamos até as 4 e meia da manha – dançando, bebendo, cantando, vivendo. Conhecemos as meninas, de Sampa e de Chile. Hablamos español hasta cambiar e-mails y otras cositas más.
Não era permitido dormir mais que o menos possível para curtir ao máximo e aproveitando da condição de sonho em que o corpo não reclama cansaço levantamos cedo mais uma vez. Café da manhã, desta vez acompanhada. Corrida. Mais uma carona até a Principal. Desta vez para o sentido contrário, mais ao sul, para Trindade. Crianças no caminho, barrigas com medo das estripulias na pequena serra. Era tudo tão fácil...seguir, pé ante pé, em qualquer direção daria certo. Caminhamos uma pequena trilha, embora houvesse quem preferisse se arriscar na água que batia nas pedras como quem convencer. Nestes descaminhos divagávamos sobre as personalidades. E a recompensa não era outra senão os próprios caminhos. Ondas. E uma piscina natural. Just Perfect. Voltamos de barco, descobrindo o Brasil e, como tudo era possível, nos juntamos a quem vinha de Londres para o mesmo paraíso escondido ainda que de frente pro Atlântico. It was english time. Todos falamos as línguas oníricas fluentemente.
Não parou por ai contudo. Resolvemos voltar ao 33, agora mais íntimo, pub da simpática gorçonete Renata. E lá também nos deliciamos com a música e o comerzinho e a luz das velas e o astral. Estava chegando a hora de acordar, hoje de manhã, e eu peguei o ônibus de volta. De um lugar pra se apaixonar. Onde não é preciso conhecer ninguém importante para ter do melhor, basta ser importante você mesmo Paraty.
Acordei hoje e, o mais incrível, é que o corpo se ressentia do sonho como se o tivesse executado e a mente está naquele ritmo da maré. Do respirar do mundo.