quarta-feira, julho 26, 2006

emprestado de Yeats

Brown Penny

I whispered, 'I am too young,'
And then, 'I am old enough';
Wherefore I threw a penny
To find out if I might love.
'Go and love, go and love, young man,
If the lady be young and fair.'
Ah, penny, brown penny, brown penny,
I am looped in the loops of her hair.
O love is the crooked thing,
There is nobody wise enough
To find out all that is in it,
For he would be thinking of love
Till the stars had run away
And the shadows eaten the moon.
Ah, penny, brown penny, brown penny,
One cannot begin it too soon.

William Butler Yeats

quinta-feira, julho 20, 2006

férias



Todo Carnaval Tem Seu Fim
Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

Todo dia um ninguém josé acorda já deitadoTodo dia ainda de pé o zé dorme acordadoTodo dia o dia não quer raiar o sol do diaToda trilha é andada com a fé de quem crê no ditadoDe que o dia insiste em nascerMas o dia insiste em nascerPra ver deitar o novo...Toda rosa é rosa por que assim ela é chamadaToda Bossa é nova e você não liga se é usadaTodo o carnaval tem seu fimTodo o carnaval tem seu fimÉ o fim, é o fim deixa eu brincar de ser feliz,Deixa eu pintar o meu narizToda banda tem um tarol, quem sabe eu não tocoTodo samba tem um refrão pra levantar o blocoToda escolha é feita por quem acorda já deitadoToda folha elege um alguém que mora logo ao lado E pinta o estandarte de azulE põe suas estrelas no azul Pra que mudar?Deixa eu brincar de ser feliz,Deixa eu pintar o meu nariz

Em pleno vôo

Eu andei de avião na época do glamour – obrigada vozinha.
Naquele tempo, embarcar na aeronave não era apenas procedimento incômodo e enfadonho necessário para se deslocar mais rapidamente pelo ar. Havia charme, encantamento.
As pessoas polidas realmente flutuavam.
Havia um buraco no estômago, aberto pela emoção da decolagem, que ia ser preenchido por um jantar típico da rota. No meu caso – BH-Salvador – recordo da sobremesa: os quindins, dos quais me empanturrava, gulosa, comendo o meu de direito, o da mãe e o da vó.
Dramatizávamos a viagem. Ao ouvir, atentos, a voz do piloto e comandante – autoridade. As instruções não vinham no inglês sofrível de hoje. E eram importantes. Todo cuidado era pouco. Voar era para poucos.
Podíamos cair ao mar, afinal! Podia ser preciso colocar máscaras de oxigênio! – Espantávamos e os olhos brilhavam. O brilho nos olhos não se subjugavam ao direito do consumidor e às indenizações em caso de acidente. Morte era coisa séria também naquela época. Hoje é coisa romântica.
Voar era o risco e o poder de desafiar nossa natureza.
Hoje, sinto, não é mais assim. O avião barateou e multiplicaram-se os vôos. (Está certo que é só por isso que posso escrever este relato). Temos pressa.
O embarque, uma balbúrdia. As pessoas, ordinárias. Os procedimentos, corriqueiros.
Encosto na vertical. Celular desligado. Decola.
A emoção já não abre o buraco no estômago, e eles sabem disso: o jantar típico, que ia dando cor e sabor ao destino, virou uma barra de cereais e um saquinho de amendoim (pra ninguém dizer que o lanchinho é sem sal).
Hoje, ao meu lado, ao menos, dois anacronismos me ressuscitam. A senhora, faminta, reclama seu peixe de outrora. E a criança, ingênua, questiona o comissário de bordo: Salvador e Natal? Mas o Natal não é em julho!

Esperando Godot*

Não acho que seja Deus, mas a morte. Se é que diferem.
A música insiste, tenta uma vez mais ocupar o vazio da espera. Mas os pés doem. Tomam seu lugar. Voltam sempre a doer.
Precisam um do outro. E ainda assim duvidam de sua existência.
O algoz é quem leva a pensar.
A árvore. A única que se transforma. A árvore é tudo.


*peça de Beckett, montada e encenada com primor e São Paulo.

sexta-feira, julho 07, 2006

Khan El Khalili

Casa de chá egípcia no meio de São Paulo. Três crianças.
Pede o lugar à hostess. Escolhe os almofadões. Pra começar chá de hortelã.
Um Mapa-múndi em que a escala deixa a casa maior que um átomo e menor que um ácaro. Um que quer ser arqueólogo para desenterrar ossos de dinossauros e artefatos antigos.
De onde uma criança de 6 anos tira essas coisas?
De um achados e perdidos de idéias. Só pode!
Lá existe também um segundo pra segurar: Quero agora! Neste segundo. Então segura, porque senão não volta mais.
Au au. Cães não sei, mas ladrar pode ser engraçado.

Dança do Ventre. Como é que elas fazem aquilo com aquele semblante plácido?

E dále comida.
Acepipes. E pãezinhos árabes. Berinjela, azeitona, grão de bico, banana.
Salgadinhos. E sobremesas. Sorvete, ninhos de damasco, de nozes...
Um tempero especial: a gargalhada espalhafatosa. Nada econômica.
Depois de entregar o mais responsável à hora de dormir, ainda alguma poesia. Uma cachaça mineira pra esquentar a noite e um muffin para adoçar os sonhos.
Uma noite sabendo umami.

quinta-feira, julho 06, 2006

época de copa do mundo


(foto por Daniela Pelachin)

decoração

Pensei que a rede fosse aquecer o quarto com sua cor de fogo e de laranja. Então lá fora a temperatura caiu, e tudo isso embaçou a janela.

terça-feira, julho 04, 2006

ecológica

Gosto mais de mim nos dias em que produzo menos lixo.

manca

Num pé, raízes.
No outro, asas.
Não é todo mundo assim?

Tem gente que enjoa com o balanço do mar.
Eu enjôo com o balanço da Terra. Essa rotação, essa translação, esse ritmo.
É preciso equilibrá-lo com algum trânsito.

Bela Adormecida

“Foi você o sonho bonito que sonhei,
foi você, eu lembro tão bem você na minha visão.
E me fez sentir, e o meu amor nasceu então.
E aqui está você, somente você,
A mesma visão
Aquela do sonho que sonhei.”

Depois, não de cem, mas de vinte e cinco anos, despertou.
Aquela bela imagem. E despertou inquieta. Com mais energia do que as estruturas podem suportar sem se abalar.
Quer tirar o plano do centro da sala, bater o tapete, e colocar tudo de volta ao prumo.
Acordou com aquela vontade de voar. De brincar de invadir o desenho das nuvens. De pousar em pistas distantes oceanos. De chegar sempre. De respirar fundo toda vez que decola, sabendo-se segura pelo cinto. Acordou a vontade de sorrir de dentro pra fora.
A aeromoça em mim pergunta:
- porque é que fizeram tudo errado enquanto eu dormia?

É preciso sair do piloto automático.

Oficina

Meu carro, amassaram-no.
E ele ficou ali prostrado. Com a chuva fina no pára-brisa qual olhos rasos. Não pôde fazer muito que não esperar o conserto. O remendo.
Meu coração, amassaram-no.
E ele ficou ali a bater. Responsável.
Nem notaram que precisava de conserto. Remendo-o.
Este era eu quem dirigia.

Meu carro vai ficar qual novo.

Despropósito

Este blog foi criado com um propósito: manter contato com os amigos.
Mas nem tanto os amigos de longe o visitam, nem tanto o entendem. E há os novos...novos o quês, porquês, comos. Por isso estamos mudando.
Menos uma experiência pueril e mais uma aventura literária, ainda pueril.
Um grande despropósito é o que há de ser.
É claro, seguirão figurando algumas impressões, algumas indicações. Mas o forte deverá ser qualquer coisa.
Algumas frestas para os amigos, como sempre.

segunda-feira, julho 03, 2006

"Poetariado"

A Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos - promoveu ontem um encontro com Ricardo Aleixo, poeta mineiro importante no cenário literário atual.
É bom descobrir que há um "poetariado" nesta cidade dura. E é bom descobrir, nas referências, que há uma "poeta" nesta pessoa dura. Que não sou.

POÉTICA*
Aprendi com Valéry
um pouco disto que faço:
Eu mordo o que posso"
(palavra, carne, osso)
Me acho
me acabo de vez
me disfarço

*Ricardo Aleixo

Sumpa

São Paulo em um único virar de dia...
Um pub com camisetas de rúgbi nas paredes...Australian Beer:Wallaby. Depois, cerveja alemã. E cuervo. E outra cerveja alemã.
Levantar da cama com aquele frio, fazendo fumacinha ao falar.
Croissant de chocolate quente na alameda Jaú pra esquentar.
Brincar de Sommelier ao comprar um presente. E descobrir mais tarde como sabe, entre um malbec e um cabernet, a shiraz australiana. Sem rúgbi desta vez.
Um jogo de futebol em que a estrela – nem do céu nem do mar* - é o técnico. E quem brilha é um goleiro: Ricardo! Três pênaltis defendidos.
Depois da vitória Portugal vs Inglaterra e da derrota Brasil vs França, devo dizer, fiquei muito mais à vontade para torcer pelo Felipão na semi final. E lembrei, afinal, que sou Portugal desde muito antes de nascer!
Num ínterim, entre tudo isso, teve o lançamento dum livro infantil, com direito a dedicatória para uma amiguinha.
E houve música.
Música é uma delícia. Descoberta é uma delícia. As duas coisas juntas então nem se fala!
Amaranto, Serrat, Antonio Adolfo, Elomar. Gêneros diferantes, épocas diferentes. Todos devem ser visitados.
E ainda um, que eu queria comprar, do cara que canta com a ex-mulher, americanos, mistura de FYC com Gorillaz, cujo nome não faço idéia de por onde passa.

*Estrelas do céu e do mar, José Santos. Lançamento na livraria da vila.